segunda-feira, 6 de abril de 2009

Apostasia

Pr. Cleverson de Abreu Faria


Apostasia = revolta, rebelião, um afastamento doutrinário e religioso, “apostasia” da verdade, retirada ou afastar-se daquilo a que antes se estava ligado, biblicamente falando e o abandono da verdadeira fé.

“Apostasia é um ato de cristãos professos que deliberadamente rejeitam a verdade revelada, como: 1) a divindade de Jesus Cristo, e 2) a redenção mediante o Seu sacrifício expiador e remidor (1Jo 4.1-3, Fp 3.18; 2Pe 2.1). A apostasia difere, portanto, do erro quanto à verdade, que pode ser o resultado da ignorância (At 19.1-6), ou heresia, devido a uma armadilha de Satanás (2Tm 2.25-26), sendo que as duas podem existir junto com a verdadeira fé. O apóstata está perfeitamente descrito em 4.3-4. Os apóstatas afastam-se da fé, mas não da profissão externa do Cristianismo (3.5)...”.[1]


É uma afirmação dos homens de que conhecem a Deus, no entanto, é negada por eles através de suas ações (Tt 1.16).

É quando uma pessoa não permanece na doutrina de Cristo (2Jo 9).

É literalmente um afastamento da fé verdadeira, das verdades bíblicas (1Tm 4.1).

É o resultado de uma pessoa não suportar a sã doutrina (2Tm 4.3).

É quando uma pessoa abandona o caminho verdadeiro (2Pe 2.15).

É quando uma pessoa se afasta dos santos mandamentos de Deus (2Pe 2.21).

Em sua forma nominal, como substantivo, a palavra encontra-se somente duas vezes no Novo Testamento, sendo elas: Atos 21.21 (apostasian) e 2 Tessalonicenses 2.3 (apostasia). Como verbo, a palavra acha-se em Hebreus 3.12 (aposthnai).


“Na Igreja pós-apostólica, havia três modos segundo os quais uma pessoa ou uma igreja podiam ser considerados apóstatas: 1. mediante a renúncia da fé (uma das definições usuais); 2. mediante lapso moral, por haver o indivíduo cometido os grandes pecados de adultério ou homicídio (sem arrepender-se dos mesmos). Os cristãos não recebiam de volta à comunhão aos que assim transgredissem. Porém, na Idade Média, a palavra apostasia parece que era aplicada somente àqueles que renunciavam inteiramente a fé cristã”.[2]



A. A PALAVRA NO GREGO

apostasian - At 21.21 e foram informados a teu respeito que ensinas todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da lei;



apostasia - 2Ts 2.3 Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição;


aposthsontai - 1Tm 4.1 Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios;


aposthnai - Hb 3:12 Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo.


B. PRINCIPAIS USOS

1. No grego clássico, o substantivo era usado para referir-se à defecção política, e o verbo é evidentemente empregado neste sentido em Atos 5:37 a respeito de Judas, o galileu, que "arrastou" (apesthsen, forma de afisthmi) seguidores.


2. Na Septuaginta fora usada no sentido de revolta contra Deus (Js 22.22).


3. A Septuaginta grega usa o termo em Gênesis 14.4, com referência a uma rebelião (arrastando seguidores).


4. A aplicação do termo apostasia – segundo o sentido transmitido nos Evangelhos – se refere ao ato de se afastar dos ensinos originais de Jesus Cristo, em conexão com seu Pai.


5. Apostatar também é usado no sentido de cortar o relacionamento salvífico com Cristo, ou apartar-se da união vital com Ele e da verdadeira fé nEle. Portanto, a apostasia individual é possível somente para quem já experimentou a salvação, a regeneração e a renovação pelo Espírito Santo (cf. Lc 8.13; Hb 6.4,5) não é somente uma simples negação das doutrinas do Novo Testamento pelos não salvos dentro da igreja visível. A apostasia pode envolver dois aspectos distintos, embora relacionados entre si:

a) A apostasia teológica, ou seja, a rejeição de todos os ensinos originais de Cristo e dos apóstolos ou quaisquer deles (1Tm 4.1; 2Tm 4.3);

b) A apostasia moral, ou seja, aquele que era crente deixa de permanecer em Cristo e volta a ser escravo do pecado e da imoralidade (Is 29.13; Mt 23.25-28; Rm 6.15-23; 8.6-13).


6. Exemplos da apostasia propriamente dita acham-se em Ex 32; 2Rs 17.7-23; Sl 106; Is 1.2-4; Jr 2.1-9; At 1.25 (parebh de parabainw, transgrido, transvio-me, desvio-me. Referindo-se a Judas Iscariotes que apostatou do caminho, transviou-se da verdade); Gl 5.4 (exepesate de ekpiptw. Referindo-se aos gálatas que haviam voltado para a lei, abandonando a graça); 1Tm 1.18-20 (apwsamenoi de apwyeomai, repudio, rejeito, repilo, empurro ou lanço de mim. Referindo-se a Himeneu e Alexandre que foram entregues a Satanás para não mais blasfemarem); 2Pe 2.1 (arnoumenoi de arneomai, nego, recuso. Referindo-se aos falsos mestres que renegarão ao Senhor Jesus Cristo); 2Pe 2.15 (kataleipontev de kataleipw, deixo, largo, reservo, abandono; e eplanhyhsan de planaw desvio, seduzo, extraio, faço errar, engano, desencaminho, iludo, seduzo. Referindo-se a também aos falsos mestres que abandonaram o caminho reto e se extraviaram seguindo o caminho de Balaão); 2Pe 2.20-22 (upostreqai de upostrefw, volto, regresso, desvio-me. Referindo-se também aos falsos mestres que depois de conhecerem o reto caminho voltam para trás); Jd 4,11-13 (arnoumenoi de arneomai, nego, recuso. Referindo-se a homens ímpios que entram nas Igrejas para perverterem aos demais. Fala claramente que Caim, Balaão e Coré cometeram apostasia tremenda).


7. Quando um indivíduo continua deliberadamente no ato de apostasia e não coloca um refreio, este, pode, finalmente vir a chegar em um ponto em que talvez não seja possível um recomeço:

a) Ou seja, a pessoa que no passado diz ter uma experiência de salvação com Cristo, mas que delibera e continuamente endurece o seu coração para não atender à voz do Espírito Santo (Hb 3.7-19), e por isso continua a pecar intencionalmente (Hb 10.26) e se recusa a arrepender-se e voltar para Deus, pode chegar a um ponto sem retorno em que não há mais possibilidade de arrependimento e consequentemente de salvação (6.4-6; Dt 29.18-21; 1Sm 2.25; Pv 29.1). Há um limite para a paciência de Deus (1Sm 3.11-14; Mt 12.31,32: 2Ts 2.9-11; Hb 10.26-29,31; 1Jo 5.16).

b) Esse ponto de onde não há retorno, não se pode definir de antemão. Logo, a única salvaguarda contra o perigo de apostasia extrema está na admoestação do Espírito: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Hb 3.7,8,15; 4.7).


8. Muito embora a apostasia seja um perigo para todos os que vão se desviando da fé (Hb 2.1-3) e que por isso se apartam de Deus (Hb 6.6), ela irá se consumar com o constante e deliberado pecar contra a voz do Espírito Santo.


9. A igreja apóstata é identificada no período da tribulação aqui na terra (Ap 17 e 18). Enquanto que a verdadeira Igreja estará no céu sendo julgada (Ap 14.4; 19).


10. Há um perigo muito grande aqui. Aqueles que por causa de um coração incrédulo se afastam de Deus (Hb 3.12) podem vir a pensar que ainda são verdadeiros crentes, porém a sua indiferença para com as exigências de Cristo e do Espírito Santo e para com as advertências das Escrituras indica o contrário. Visto que podemos nos enganar a nós mesmos, Paulo nos exorta: “Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos” (2Co 13.5).


11. Um apóstata não é uma pessoa salva, visto que ele não têm o Espírito (Jd 19; Rm 8.9). Os apóstatas “são ‘solo rochoso’, ouvintes que recebem a Palavra com alegria, Lc 8.13, mas que depois desistem, o que é literalmente ‘apostatar’. O ‘solo bom’, ouvintes que aceitam a Palavra em seus corações, têm uma palavra mais forte para aceitar, Mc 4.20, Gr.”.[3]


12. Aquela pessoa que se preocupa com sua condição espiritual e sente no seu coração o desejo de voltar-se arrependido para Deus, demonstra claramente que não cometeu a apostasia imperdoável. As Escrituras afirmam com clareza que Deus não quer que ninguém pereça (2Pe 3.9 cf. Is 1.18,19; 55.6,7) e declaram que Deus receberá todos que já desfrutaram da graça salvadora, se arrependido, voltarem a Ele (cf Gl 5.4 com 4.19; 1Co 5.1-5 com 2Co 2.5-11; Lc 15.11-24; Rm 11.20-23; Tg 5.19,20; Ap 3.14-20; note o exemplo de Pedro, Mt 16.16; 26.74,75; Jo 21.15-22).


13. Existem alguns passos que levam uma pessoa à apostasia, são eles:

a) O crente, por sua falta de fé, deixa de levar plenamente a sério as verdades, exortações, advertências, promessas e ensinos da Palavra de Deus (Mc 1.15; Lc 8.13; Jo 5.44,47; 8.46).

b) Quando o crente se torna carnal, fazendo com que as realidades do mundo se tornem maiores do que as do reino celestial de Deus, este deixa paulatinamente de aproximar-se de Deus através de Cristo (Hb 4.16; 7.19,25; 11.6).

c) Por causa da aparência enganosa do pecado, a pessoa acaba por se tornar cada vez mais tolerante para com o pecado em sua própria vida (1Co 6.9,10; Ef 5.5; Hb 3.13). Já não ama a retidão nem odeia a iniqüidade (Hb 1.9).

d) Por causa da dureza do seu coração (Hb 3.8,13) e da sua rejeição dos caminhos de Deus (v.10), não faz caso da repetida voz e repreensão do Espírito Santo (Ef 4.30; 1Ts 5.19-22; Hb 3.7-11).

e) Visto que a pessoa entristece o Espírito Santo (Ef 4.30; cf. Hb 3.7,8); apaga o Espírito Santo (1Ts 5.19) e profana o templo do Espírito Santo (1Co 3.16); ele se torna um apóstata por não voltar atrás.


C. MATERIAL DE PESQUISA CONSULTADO:

ALAND, Kurt, et al. The Greek New Testament. 3 ed. Federal Republic of Germany: United Bible Societies, 1983.

CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. 4. ed. Vol.1 São Paulo: Editora Candeia, 1997.

EVANS, William, CODER, S. Maxwell. Exposição das grandes Doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Batista Regular, 2000.

PENTECOST, J Dwight. Manual de Escatologia: uma análise detalhada dos eventos futuros. São Paulo: Editora Vida, 1999.

SCOFIELD, C. I. A Bíblia com Anotações de Scofield. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983.

TAYLOR, W.C. Dicionário do Novo Testamento Grego. São Paulo: Editora Batista Regular, 2000.

VINE, W. E. Vine’s Expository Dictionary of Biblical Words. Nashville. Camden, New York, USA: Thomas Nelson Publishers, 1985.

WALVOORD, John F. Todas as Profecias da Bíblia. São Paulo: Editora Vida, 2000.




[1] SCOFIELD, C. I. A Bíblia com Anotações de Scofield. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983, p.1233.

[2] CHAMPLIN, Russell N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. 4. ed. Vol.1 São Paulo: Editora Candeia, 1997, p.238.

[3] EVANS, William, CODER, S. Maxwell. Exposição das grandes Doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora Batista Regular, 2000, p.218.

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