sexta-feira, 22 de maio de 2009


JUSTIFICAÇÃO E OBRAS DA LEI

 

 

Pr. Cleverson de Abreu Faria

 

Justificação é o ato judicial de Deus através do qual Ele declara justamente  e trata como justo aquele que crê em Jesus Cristo. A pessoa culpada fica isenta da punição merecida por causa da morte substitutiva de Jesus Cristo.

 

“A justificação significa realmente a reintegração do homem, na sua verdadeira relação com Deus. É, então, considerado como justo, aceito perante Deus como reto com respeito à lei divina, sendo, portanto, restaurado a  sua primitiva posição. E deste modo a justificação é muito mais do que o perdão, embora o perdão seja, necessariamente, uma parte da justificação”. [1]

 

O tempo da justificação consiste desde toda a eternidade; presente, passado e futuro da nossa vida: “Quem já se banhou (justificação), não necessita de lavar senão os pés (perdão) (Jo 13.10). (Sl 25.6; 103.17).

 

Os termos usados para justificação, no grego, são: Dikaios (justo); Dikaiosis (justificação, defesa, reclamação dum direito); Dikaioo (ter ou reconhecer como justo).

 

            TERMOS BÍBLICOS PARA JUSTIFICAÇÃO:

            No Velho Testamento: o termo é hitsdik, declarar judicialmente que o estado de alguém está em harmonia com as demandas da lei (Ex 23.7; Dt 25.1; Pv 17.15; Is 5.23).

 

            No Novo Testamento:

1)      o verbo dikaioo, declarar justo uma pessoa. As vezes se refere a uma declaração pessoal de que o caráter moral de alguém está em conformidade com a lei (Mt 12.37; Lc 7.29; Rm 3.4).

2)      a palavra dikaios é usada a alguém quando segundo o juízo de Deus, sua relação com a lei é a que seja conveniente, ou quando a vida que leva é tal como requer a relação judicial que guarda com Deus.

3)      Dikaiosis, justificação (Rm 4.25; 5.18), denota o ato de Deus que declara que os homens estão livres da culpa, e são aceitáveis diante dEle. “Justificar” no sentido bíblico é executar uma relação objetiva, um estado de justiça, mediante sentença judicial. O sentido usual de justificação no Novo Testamento é: mediante imputação a uma pessoa a justiça de outra, é dizer, contanto, como justo, mesmo que anteriormente seja injusto.

 

A NATUREZA E AS CARACTERÍSTICAS DA JUSTIFICAÇÃO: a justificação é um ato judicial de Deus no qual Ele declara, sobre a base da justiça de Jesus Cristo que todas as demandas da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador. Os que são justificados tem “paz com Deus”, “Segurança da salvação” (Rm 5.1-10) e uma herança entre os que são santificados (At 26.18).

 

ELEMENTOS DA JUSTIFICAÇÃO:

1)      O elemento negativo: a remissão dos pecados sobre a base de obra expiatória de Jesus Cristo. Este elemento se baseia em forma mais particular, se bem que não de maneira mais exclusiva sobre a obediência passiva do Salvador.

2)      O elemento positivo: a obediência ativa de Cristo. Se distingue em duas partes:

a)      adoção de filhos, todos os crentes são filhos de Deus por adoção (Jo 1.12; Rm 8.15,16; Gl 3.26,27; 4.5,6);

b)      o direito da vida eterna (Jo 8.17,23,29,30).

 

A ESFERA EM QUE OCORRE A JUSTIFICAÇÃO:

1)      a justificação ativa ou objetiva, consiste em uma declaração de Deus a respeito do pecador e que se pronuncia no tribunal de Deus. O perdão dos pecadores.

2)      A justificação passiva ou subjetiva, tem lugar no coração ou consciência do pecador. A justificação passiva é consequência da fé; somos justificados pela fé.

 

JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ: o ato da fé é o instrumento pelo qual nos apropriamos a Cristo e sua justiça (Rm 3.25,28,30; 5.1; Gl 2.16; Fp 3.9).

 

BASE DA JUSTIFICAÇÃO:

1)      negativamente, esta não pode encontrar-se em nenhuma virtude do ser humano e nem em suas boas obras. As Escrituras nos ensinam que o homem é justificado pela graça de Deus (Rm 3.24), e que não é possível ser justificado por obras da lei (Rm 3.28; Gl 2.16; 3.11);

2)      positivamente, a base da justificação pode fundamentar-se em nada mais que a justiça perfeita de Jesus Cristo (Rm 3.24; 5.9,19; 8.1; 10.4; 1Co 1.30; 6.11; 2Co 5.21; Fp 3.9).

 

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA JUSTIFICAÇÃO: trata-se de um ato divino (Rm 8.33); ela vem pela fé, independentemente das obras (At 15.1; Rm 3.28); ela é imputada, lançada na conta (Rm 3.22); é conferida ao homem mediante a expiação pelo sangue (Rm 5.9); ela produz a bem-aventurança espiritual (Rm 4.6-8); ela estabelece a paz com Deus (Rm 5.1).

 

A justificação é um ato declarativo de Deus (Rm 3.25,26).

 

O QUE ESTÁ ENVOLVIDO NA JUSTIFICAÇÃO?

A Manifestação da Justiça Divina (Rm 3.21,22a). Por meio da lei, os pecadores nunca poderiam ter conseguido a sua justificação. Somente Deus pode atribuir a Sua justiça ao homem: “De mim se dirá: Tão-somente no Senhor[e não na lei] há justiça e força; até ele virão e serão envergonhados todos os que se irritarem contra ele. Mas no Senhor será justificada toda a descendência de Israel, e nele se gloriará”(Is 45.24,25). E ainda: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si”.

 

A Imputação da Justiça Divina (Rm 3.22b,25a). A justificação trata-se de um ato declarativo. O único meio para isso é que Jesus Cristo levou sobre si a culpa do pecador. Há duas coisas aqui a considerar: 1) nossos pecados são colocados na conta de Cristo, sendo assim, a nossa condenação e culpa são inteiramente removidos; e 2) a justiça de Deus é colocada em nossa conta, podendo assim então obtermos a posição de justos. “Como que lá no Céu, em nossa conta corrente, tivéssemos uma dívida – por causa de nossos pecados. Mas Cristo pagou essa dívida; contudo, nada havia em nosso crédito enquanto Deus não colocou ali toda a Sua própria justiça. Agora, temos exatamente aquilo que Deus exige de nós – justiça perfeita, a justiça de nosso Senhor Jesus Cristo!”[2]

 

A Vindicação da Justiça de Deus (Rm 3.25b,31). Pela morte de Cristo podemos reclamar a justificação de Deus. Se esta justificação viesse através da observância da lei, ela só poderia ser obtida por aqueles que tivessem a lei. Mas, não é isso o que ocorre, pois ela é por meio da fé, o que indica que todos tem uma oportunidade, mesmo judeus como gentios, sem qualquer tipo de preferência ou parcialidade.

 

RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO: vemos isso claramente em Romanos 5.1 e 2:

1)      Jesus Cristo é a base da justificação;

2)      Fé é a condição essencial exigida na justificação;

3)      A remissão da pena traz a paz com Deus;

4)      A restauração na graça, pela fé, por uma nova atitude para com Deus.

 

DEVEMOS OBEDECER À LEI DO ANTIGO TESTAMENTO OU DESPREZÁ-LA? Gl 3.1-25

A resposta a essa pergunta não é simples. A lei consistia nos mandamentos que Deus dera a Moisés, cerca de 430 anos depois de firmar aliança com Abraão. Paulo observa que Deus havia declarado Abraão justo antes de a lei existir. A lei, no entanto, foi dada com o propósito de definir o pecado.  Foi dada para “revelar” e não “remover” o pecado. Portanto, sustenta Paulo, obedecer à lei não podia ser a base do relacionamento com Deus. A fé é a única base desse relacionamento.

 

A única coisa que a lei podia fazer era “amaldiçoar”. Ela exigia obediência completa, íntegra, irrepreensível. Aquela pessoa que se desviasse dela era passível do maior rigor. As obras feitas por meio da lei não podiam sequer justificar a pessoa, porque simplesmente não se conseguia cumprir toda a lei, logo todos foram amaldiçoados.

 

A justificação então, por meio das obras da lei é impossível, porque a lei traz somente maldição para aqueles que a desobedecem.

 

É somente pela obra de Cristo, e não pelas nossas obras ou méritos que somos justificados. O homem sempre tem procurado estabelecer a sua própria justiça (Rm 10.1-3), mas sempre tem falhado  e demonstrado a sua incapacidade. A Bíblia diz: “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9)

 

A lei nunca pretendeu tomar o lugar da fé. Nunca foi destinada a dar aos israelitas uma lista de regras pelas quais pudessem alcançar a salvação. Antes, servia apenas para mostrar-lhes como estavam longe dos padrões de Deus (v.19).

 

A lei desmascarou o pecado para que as pessoas fossem conduzidas a Cristo como a única resposta ao pecado. De fato, Cristo nasceu debaixo da lei e foi O Único que conseguiu cumpri-la em todos os caminhos. Por isso, ele podia morrer por nós, a morte não tinha poder sobre Ele. O Justo sofreu e morreu pelos injustos. Ele se fez maldição em nosso lugar. Tudo isso, para que pudesse justificar aqueles quanto cressem. Paulo chamou à lei santa, espiritual (Rm 7.12,14) e boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo (1Tm 1.8). Porém, se a lei for usada de modo indevido – como para alcançar a salvação ou impressionar os outros – somente servirá para impor maldição (v.10).

 

            Em Romanos 4, Paulo trata sobre Abraão. Ele está se referindo ao que está escrito em Gênesis 15. Tiago também fala de Abraão, porém se refere aos acontecimentos ocorridos no capítulo 22, o que aconteceu 25 anos depois. Nesse espaço de tempo, Abraão fora um homem que foi justificado por sua fé (Gn 15.6), ficando isso demonstrado quando finalmente chegou o dia da grande prova para este grande homem de Deus (Gn 22), onde, a sua fé fora manifestado por meio de suas obras. Paulo escreveu tendo em vista os não-cristãos  e usa o capítulo 15 para evidenciar a necessidade da fé, com isso, procura demonstrar que obras são as que vem da fé. Tiago, ao contrário, se dirige aos cristãos e faz uso do capítulo 22 para provar as necessidades das obras, com isso, faz ver que a fé é provada pelas obras. Paulo faz realçar a base da justificação, ao passo que Tiago, a prova.

 

Todavia, não devemos desprezar a lei do Antigo Testamento. Ela mostra o que Deus considerou importante. Grande parte da lei contém princípios perenes para um viver correto. Certas partes ainda são úteis para quem quiser levar uma vida santa. Mas os cristãos não são obrigados a obedecer à lei do Antigo Testamento para alcançar o favor de Deus. Eles levam uma vida de obediência a Cristo e aos ensinos do Novo Testamento como ato de gratidão.

 

“Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20)

 

“Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3.28)

 

“Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço” (Rm 9.32)

 

“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gl 2.16)

 

“Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” (Gl 3.2)

 

“Aquele pois que vos dá o Espírito, e que obra maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?” (Gl 3.5)

 

“Todos aqueles pois que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” (Gl 3.10)

 

“Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus” (Rm 4.2)

 

 

 

 

 

Livros Utilizados na Pesquisa:

 

Bíblia de Estudo Vida, Almeida Revista e Atualizada – Editora Vida

Bíblia com anotações de Scofield, Almeida Revista e Atualizada

Bíblia Interativa

A Sã Doutrina, Pentecost, J. Dwight.

Teologia Sistemática, Berkhof, L.

Dicionário Bíblico Universal, Buckland A. R.

Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, Champlin, Russel N.

Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Brown, Colin.

Esboço de Teologia Sistemática, Langston, A. B.

A Lei e a Graça, Keen, C. M.

Chave Linguística do Novo Testamento Grego, Rienecker, Fritz.

Dicionário Grego-Português e Português-Grego, Pereira, Isidro.

Teologia Elementar, Bancroft, E. H.

A Justiça de Deus, Vol. 1, Gilder, H. O. Van.



[1] Dicionário Bíblico Universal, Buckland, p.258

[2] A Justiça de Deus, Gilder, H. O. Van. Vol. 1, p.49

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